domingo, 23 de julho de 2017

Os genes do mundo: o nosso maior tesouro.


Roberto Rocha

Quando falam de crise ambiental, o que logo vem a mente são questões relacionadas à poluição atmosférica, dos oceanos, das bacias hidrográficas, do solo, agrotóxicos etc. Quase ninguém lembra dos genes! E são eles que realmente fazem parte desse conjunto ecológico tão significante chamado de ECOSFERA. Embora se alegue que - desde a Revolução Industrial - nós começamos a poluir o planeta -, nem sempre nos referimos à extinção das espécies com a mesma ênfase. Muitas conferências ocorreram a partir da década de 70 no intuito de avaliar e promover medidas de combate às ameaças reinantes. Elas sugeriram medidas corretivas, preventivas e reforçaram a educação como grande mola mestra dessa mudança necessária de comportamentos indesejáveis. Faço coro com as autoridades mundiais que apoiam medidas que visem a diminuição da emissão de gases de efeito estufa ou qualquer outra ameaça física ou química que venha causar males aos seres vivos. No entanto, considero que deveríamos dar peso igual ou maior aos programas que salvem as espécies que estão a caminho da extinção ainda neste século. Não vai adiantar muito ter um clima equilibrado se não existirem os genes que garantam a nossa sobrevivência e o funcionamento dos serviços ecossistêmicos. A perde da saúde ambiental - entenda-se saúde dos ecossistemas - é pior do que qualquer mudança de clima.


 

Por outro lado, a composição da atmosfera terrestre nunca foi igual na história da Terra. O mesmo aconteceu com os organismos. Todos tiveram que se adaptar, mas os genes estavam lá em grande quantidade para garantir novas composições. O que ocorre agora é que nós mesmos - por outros motivos - estamos eliminando a nossa riqueza maior: a diversidade genética. Isso é muito grave!




 Não teremos muitos elementos com que jogar! Isso é drasticamente real e certamente muito preocupante. Nós vamos ser arrastados juntos nesta torrente. O homem não é tão suficiente quanto pensa! Muito ao contrário, é uma das espécies que mais depende de outras completamente diferentes, e não somente do clima ou da água que bebe.

sábado, 13 de maio de 2017

Percepções de um mundo humano equivocado


Roberto Rocha
O principal problema do século XXI não é a mudança do clima porque o clima da Terra nunca foi estável. Sempre mudou conforme os diferentes cenários e interferências cósmicas e leis físicas. A questão principal está na astronômica perda de biodiversidade que observamos hoje porque é ela que sustenta o funcionamento dos atuais sistemas, associada às condições climáticas. Cada tempo tem sua própria história. Um dia nosso planeta será estéril ou habitado por criaturas condizentes com as condições de clima que se apresentarem. A evolução caminhará para outras estradas. Até mesmo o fato de se extinguir naturalmente é um caminho a ser trilhado e imutável. Vamos apagar tanto quanto o Sol É apenas uma questão de milhões de anos. A nossa cultura consumista predatória está nos conduzindo para um destino equivocado e fatal porque o mundo econômico assim o deseja e nos faz prisioneiros ou nos torna cúmplice desse processo organizado e culturalmente orquestrado. O mundo econômico não deseja discutir questões ecológicas que não representem lucros imediatos ou garantias futuras. Não desejam a sustentabilidade alardeada porque o triple botton line capitalista só tem uma enorme perna: a econômica. O pilar socioambiental só interesse para ser consumido ou usado para gerar mais dinheiro e servir a interesses materiais e não exatamente mais felicidade espiritual. Isso é loucura! Como falar de sustentabilidade num mundo que mantém a fabricação de armas poderosas e equipes especializadas para eliminação sumária? Como falar de preservar espécies alheias se vivemos matando nossos semelhantes? Como plantar alimentos orgânicos e livres de venenos num mundo que ainda fabrica e investe fortemente na venda de venenos? Como falar de frutos se o problema está nas raízes? O povo não ignora os cientistas! O que ocorre, é que ele está sendo manipulado por personagens específicas e ocupado com distrações vulgares - devidamente orientadas e inseridas desde os ambientes escolares - para que sejam exatamente desse jeito: consumidores iludidos. A concepção de qualidade de vida está direcionada para atender interesses econômicos superficiais e não exatamente os interesses mais puros e profundos da realização humana. O planeta é visto como um conjunto de seres e coisas que “servem” ao sistema para sua riqueza material. A busca para uma qualidade de vida para todos é uma piada para os gananciosos e corruptos de plantão. Eles – os capitalistas desavisados - não querem saber de qualidade de vida natural porque isso trava a tecnologia. No mundo capitalista predatório não existe qualidade de vida para os ecossistemas funcionarem perfeitamente se eles não gerarem lucros e saldos bancários positivos. Não existe o existir “por” existir. Apenas o existir “para” existir. Esse é o grande desafio! Ninguém quer ser mais paleolítico! Mas nossa herança hominídea nos mostra que – mesmo sendo uma criatura com cérebro reptiliano – podemos evoluir em outros sentidos mais nobres e espirituais; menos selvagens, menos desconfiados e medrosos. O fato é que fomos “atropelados” por uma cultura de ferramentas incompatíveis com a nossa biologia naturalmente herdada. É simples de entender! E poderíamos ser diferentes, mas existe uma minoria no mundo que não está interessada nos aspectos históricos que nos forjaram. Muito menos na biota que se esgota rapidamente. Só existe um interesse maior: manter o sistema econômico como o mais importante de todos. Quando existir um grupo interessado e ativo voltado para a vertente socioambiental, sem ser seu usurpador e dono, então teremos alguma chance de nos fazer ouvir e até enxergar uma luz no fundo do túnel. Mas o túnel escuro que construímos – e continuamos a aumentar – deixa cada vez mais distante o acesso à luz brilhante. A biodiversidade vai desaparecer numa escala em números e num tempo curto, de forma muito mais letal do que qualquer tentativa frustrada para mudar o clima. Podemos mudar sim o cenário atual que afeta a biodiversidade, mas não poderemos fazer muita coisa pelo clima. Ele é autônomo. O planeta não se preocupa com partes irrelevantes como nós somos. Só nós mesmos é que nos achamos relevantes. O planeta está morrendo. Assim como o Sol. É um processo em andamento. Estamos esfriando de fora para dentro. Às vezes mais, às vezes menos, porque ainda temos uma bola de fogo ardente dentro dessa pequena geosfera que não deseja se apagar logo. Vai levar ainda um bom tempo. Só não sei se vamos estar por aqui. Quem sabe num outro planeta estéril, para construir um modelo mais sensato do que o que temos. Nesse novo mundo vamos refletir sobre a nossa estupidez: de ter vivido num planeta maravilhoso que ocupamos gratuitamente; mas que – por outro lado – não soubemos respeitar. E teremos que desconstruir o inferno amaldiçoado que criamos em busca de uma felicidade que estava em nossas mãos o tempo todo e não fomos capazes de perceber...

domingo, 23 de abril de 2017

A pesca predatória no BRasil

Colaborador Roberto Rocha

Absurdo dos absurdos! O BRasil é completamente omisso em suas estatísticas de pesca. Não temos como saber o que é predado pela ganância humana e econômica que está devastando nosso tesouro azul. Se já não bastassem as devastações continentais recentes da Amazônia para cumprir acordos internacionais de exportação de carne e soja, agora estão sendo omitidos - já há alguns anos - também os dados da pesca predatória. Vai ser uma vergonha total a participação do BRasil na Conferência das Nações UNidas sobre OCEANOS em junho deste ano. Imaginem que até conseguiram tirar de circulação por algum tempo a lista de espécies ameaçadas de peixes do BRasil. Em nenhum país sério isso aconteceria. A questão principal não é o aquecimento global como dizem por ai. A questão é a perda de nossa biodiversidade que é absurdamente astronômica, e isso vai comprometer o patrimônio natural nacional, com repercussões gravíssimas para as próximas gerações. Não podemos controlar o clima do mundo mas poderíamos controlar a perda de biodiversidade se isso fosse prioridade urgente urgentíssima. Você sabia que a ONU tem 17 objetivos a serem cumpridos até 2030 e o BRasil tem compromissos a serem cumpridos? Sabia que o OBJETIVO 14 fala exatamente dos oceanos como meta a ser atingida? Sabia que estamos expostos à severas críticas a nível mundial e isso prejudica nossa imagem internacional?

Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável

Os oceanos cobrem três-quartos da superfície da Terra, contém 97% da água do planeta e representam 99% da vida no planeta em termos de volume.
Mundialmente, o valor de mercado dos recursos marinhos e costeiros e das indústrias é de 3 trilhões de dólares por ano ou cerca de 5% do PIB (produto interno bruto) global.
Mundialmente, os níveis de captura de peixes estão próximos da capacidade de produção dos oceanos, com 80 milhões de toneladas de peixes sendo pescados.
Oceanos contêm cerca de 200 mil espécies identificadas, mas os números na verdade deve ser de milhões.
Os oceanos absorvem cerca de 30% do dióxido de carbono produzido por humanos, amortecendo os impactos do aquecimento global.
Oceanos são a maior fonte de proteína do mundo, com mais de 3 bilhões de pessoas dependendo dos oceanos como fonte primária de alimentação.
Pesca marinha direta ou indiretamente emprega mais de 200 milhões de pessoas.
Subsídios para a pesca estão contribuindo para a rápida diminuição de várias espécies de peixes e estão impedindo esforços para salvar e restaurar a pesca mundial e empregos relacionados, causando redução de 50 bilhões de dólares em pesca nos oceanos por ano.
40% dos oceanos do mundo são altamente afetados pelas atividades humanas, incluindo poluição, diminuição de pesca e perda de habitats costeiros.

Saiba mais: disponível em:https://nacoesunidas.org/conheca-os-novos-17-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-da-onu/

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O homem branco de origem negra.

Colaborador Roberto Rocha


Os homens brancos sempre foram brancos? Essa pergunta me surgiu ao assistir um programa sobre racismo. Qual a origem do racismo? O racismo sempre existiu ou é uma consequência natural e sociocultural? Se é verdade que o berço da humanidade é a África, então, todos nós éramos negros no início: uma origem sem diferenciação de fenótipos. A questão da raça, quando estudada do ponto de vista genético, é algo muito natural entre qualquer espécie. Aprendi que uma espécie pode ser modificada em algumas de suas características, com base em duas fortes vertentes: a do potencial genético e da resistência do meio. Se a nossa constituição genética de um passado muito remoto, era uma só; e vivíamos num mesmo continente, na linha do Equador, então parece ser fácil explicar que poderíamos ficar por ali, por muitos milhares de anos, sem grandes variações em nosso genoma original. No entanto, nossa curiosidade de conhecer o entorno nos fez ampliar, cada vez mais. os nossos restritos territórios de origem. Em nossas vivências migratórias, fomos deixando pelo caminho um rastro genético de pele negra adaptada aos trópicos. Mas a medida que nos deslocamos para o Norte, os desafios aumentaram. Não estávamos acostumados com tanto gelo. A riqueza da caça abundante equatorial não era a mesma nas terras boreais. Muitas espécies foram exterminadas pela interferência humana no passado - e continuam sendo até hoje - só que num rítmo muito mais acelerado. Logo perceberíamos que somente com muita inovação para manejar plantas e animais é que teríamos alguma chance de continuar a viver em ambientes tão hostis. Por centenas e centenas de anos a melanina superficial foi diminuindo e a cor da pele foi clareando. Uma cultura adaptada às exigências do Norte era agora uma questão de sobrevivência. Tivemos que melhorar a nossa capacidade de caçar, plantar e criar. Algo novo que não aconteceu com nossos ancestrais das florestas dos trópicos. Os grandes animais do gelo que lembravam as espécies africanas foram logo exterminados para servirem de alimento. E agora, o que fazer? Enquanto isso a pele negra que migrara no sentido da linha do equador continuava a encontrar caça abundante e sem problemas com o gelo devastador. Duas correntes então se formaram de uma mesma origem. Os migrantes equatoriais e os migrantes boreais. A vida tropical é menos exigente e oferece tudo que precisamos. Não há necessidade de grandes mudanças. No entanto o fato de termos saído da África nos colocou um enorme desafio que não estávamos acostumados: viver em terras frias. Onde está a caça abundante de um ano inteiro, a qualquer momento, de dia e de noite? Em terra ou nos rios? Nas praias arenosas e nos mangues, ricas em moluscos, crustáceos, e uma infinidade de peixes? O homem do Norte ficou um tanto desolado com pobreza de vida, mas sabia como plantar e colher mesmo em pequenos períodos. Aprendeu a guardar o alimento e ampliou sua capacidade de sobreviver, invadir e se adaptar à nova realidade. Talvez seja esta a principal diferença entre os homens negros que tornaram brancos e os homens sempre negros. Foi uma questão ecológica e cultural. A necessidade faz a hora ou a hora faz a necessidade? Os indivíduos que não souberam se adaptar as novas exigências, sucumbiram. Outros, voltaram para a linha do Equador. Mas alguns ficaram. E por muitos anos aprenderam técnicas novas de se organizar e de observar o que havia nas proximidades. O homem equatorial não precisou se esforçar tanto. Bastava saber caçar e pescar num mundo abundante de vida, os trópicos. O povo do gelo teve que “inventar” novas moradias e se especializou em engenharia de sobrevivência. Foi um passo enorme. No entanto, uma vez aprendida a lição seria mais fácil ampliar suas populações por uma vasta área ainda virgem, embora um tanto pobre, se comparada com as terras tropicais. Se observarmos a maneira com que o homem brando ocupa as terras, vamos encontrar uma estrutura mais “pensada” do que as que são usadas pelas tribos da África e da America do Sul. Enquanto o povo dos trópicos concentrou sua cultura na caça, o homem do Norte concentrou sua cultura em sobreviver em ambientes hostis. Seria coerente pensar que o homem do gelo tivesse uma maneira diferente de pensar e de agir, quando comparado com o homem tropical. Quando se diz que não existe diferença entre a inteligência do negro e do branco, isso parece ser verdade, porque os desafios foram diferentes ao longo da história antropológica. Se todos os homens negros iniciais tivessem ficado no Norte, todos eles teriam os mesmo desafios e uma cultura mais semelhante. Mas isso não aconteceu. O homem do gelo foi obrigado a perceber o mundo de uma forma diferente e a conviver com modelos diferentes daqueles dos trópicos, que fizeram parte da sua história inicial. As savanas são áreas abertas e ensolaradas. A pele negra ajuda a proteger a intensa radiação solar. Mas se o homem negro passar a morar em locais mais abrigados, sob a copa das árvores da floresta equatorial, é muito possível que a sua pele não precise de tanta melanina, e fique mais “acobreada”. Seriam eles os nossos indígenas brasileiros? Não foi a toa que chamaram os europeus de “homens brancos”. Mas vem a pergunta: mas na África nós temos também florestas equatoriais! Porque os homens negros não clarearam nas florestas chuvosas da África? Por que preferiram viver lá, predominantemente nas áreas abertas? Seria por causa dos predadores? Concorrência com outras espécies de florestas mais fechadas? Será que existiram “homens brancos” na África? Como explicar a existência de uma mesma espécie – Homo sapiens – com três fenótipos diferenciados: de pele negra, de pele vermelha e de pele branca? As recentes pesquisas sobre a trajetória histórica da espécie humana e suas adaptações podem nos ajudar a esclarecer tais diferenças.

sábado, 8 de agosto de 2015

A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NOS MUNICÍPIOS BRASILEIROS

Colaborador Roberto Rocha

            Biodiversidade é um termo que vem ganhando grande repercussão nos últimos anos. Esse fato decorre da preocupação mundial, cada vez maior, em garantir recursos naturais básicos para as gerações futuras. Estima-se que até o final do século XXI o planeta perderá grande parte de sua riqueza biótica, o que representa séria ameaça econômica. Plantas e animais são recursos renováveis desde que mantenham suas populações geneticamente viáveis. A polinização das flores e a dispersão de sementes, por exemplo, são fenômenos naturais em grande parte envolvendo animais invertebrados e vertebrados de diversas espécies, garantindo assim a sobrevivência das florestas. No entanto esse "reflorestamento natural pelos animais" – mais adequadamente conhecido como “serviços ecossistêmicos” - não costuma ser evidenciado, dando-se preferência ao plantio de mudas e sementes exóticas "pelas mãos do homem”, o que deve também ser organizado através da criação de hortos municipais, sem menosprezar o "trabalho" dos organismos nativos em geral.

            As florestas contribuem para a contenção dos processos erosivos - evitando enchentes e desabamentos - amenizam a temperatura nos grandes centros urbanos, produzem uma série de princípios curativos muito usados pela população, fornecem madeiras para diversos fins, essências, fibras e óleos. As florestas são organismos vivos e dependentes, onde os animais NÃO VIVEM NELA SOMENTE, MAS FAZEM PARTE DELA E SÃO FUNDAMENTAIS PARA SUA SOBREVIVÊNCIA. Justamente por esse motivo é que precisamos conservar nossa biota porque todos esses organismos trabalham gratuitamente para nós, incessantemente. Profissional e tecnicamente falando, quem melhor para recuperar e manter as florestas?

             Outro assunto importante e que tem a ver com a biodiversidade é a conservação dos recursos bióticos que existem nas coleções das águas doce, salgada e salobra. Só mais recentemente é que os invertebrados foram considerados em nossas listas de espécies ameaçadas. São seres bem diferentes daqueles que vivem nas florestas de terra firme, nem por isso menos importantes. Rios, lagos, lagoas, manguezais, estuários, mares e oceanos, fornecem uma incrível quantidade de proteína para as populações humanas de diversos continentes do planeta. E embora os peixes façam parte da fauna – porque são zoologicamente assim classificados – você encontra esses organismos sendo comercializados em feiras e mercados sem que isso seja percebido como uma transgressão legal, embora seja proibida por lei que os animais pertencentes ao patrimônio nacional sejam explorados pela sociedade sem estudos e autorizações cientificamente orientadas. As estatísticas brasileiras sobre o volume de peixes capturados na costa atlântica brasileira são incompletas e falhas. Carecemos de equipes especializadas em recursos marinhos. Estamos exterminando espécies que não chegaram nem mesmo a ser classificadas, totalmente desconhecidas. Daí a necessidade de nos preocuparmos com a boa qualidade da água e os perigos da erosão e assoreamento nesses ecossistemas, porque somente livres de poluentes e de outras alterações físicas é que poderão manter e permitir a reprodução das populações vegetais e animais que dela dependem, tanto ou mais do que nós.

            Apesar de termos conhecimento do valor desses recursos - e do mal que lhes temos causado - muito pouco temos realizado para reverter a atual situação. Precisaremos, urgentemente, acelerar esse processo de restauração ambiental para resguardar a nossa própria sobrevivência, seriamente ameaçada. Assim, torna-se necessária a real participação governamental, especialmente a nível do município porque está mais próximo dos problemas e pode melhor controlá-los. Muitas vezes, mais do que recursos financeiros e humanos, o que falta realmente é a vontade política, que desencadeia as demais. Os municípios precisam se organizar melhor para atuar em seus ecossistemas, preservando-os ou recuperando-os, ao invés de esperar somente que o Estado resolva a maioria de seus problemas, como normalmente acontece. Para orientar procedimentos e outros atos oficiais esperados por parte das Prefeituras, estamos apresentando as seguintes sugestões:


1- Que os assuntos referentes ä flora e ä fauna sejam tratados em conjunto sob o título CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE.
          2- Que os ecossistemas que ultrapassem os limites políticos do município sejam estudados e manejados em conjunto com os municípios vizinhos, para que não haja descontinuidade e desigualdade de tratamento nos assuntos ecológicos - que desconhecem limites político-geográficos. Normalmente as bacias e micro-bacias hidrográficas são as unidades aconselháveis para desenvolver estudos e planos.
          3- Que sejam criados e considerados prioritários SERVIÇOS, DIVISÕES E DEPARTAMENTOS, que atuem sobre o tema BIODIVERSIDADE MUNICIPAL, o que não impedirá ações em conjunto com universidades, organizações não governamentais, associações de moradores, entidades religiosas, clubes de serviço e outros segmentos da sociedade que possam colaborar nesse trabalho integrado.
         4- Que as equipes que fiscalizam o uso dos recursos naturais do município, sejam treinadas nos temas ambientais onde deverão atuar, para o adequado desempenho de suas funções.
        5- Que o orçamento municipal priorize recursos financeiros para equipar e manter as equipes de fiscalização e auditoria ambientais.
     6- Que para seleção de áreas a serem protegidas sejam consideradas  não somente aquelas indicadas pelo Estado como Unidades de Conservação, mas também  quaisquer outras que sejam vitais para a manutenção da boa qualidade de vida do  município.
       7- Que a fiscalização seja rigorosa nas áreas que sofrem pressões fortes com destruição de formas jovens de animais, suas larvas e ovos, como é o caso das ilhas, praias, costões rochosos, manguezais, lagunas, brejos, etc. A poluição, na maioria das vezes, mata muitos  animais microscópicos que não são visíveis a olho nu. A quantidade desses seres é infinitamente maior do que todos os adultos que podem ser colhidos mortos ou fotografados para notícias em  jornais.
       8- Que na delimitação de áreas de importância ecológica para a flora e a fauna se dê prioridade àquelas que possuam maior extensão e continuidade de cobertura vegetal, sem maiores interrupções entre elas. É preciso também lembrar que áreas degradadas não são sinônimos de áreas irrecuperáveis, devendo essas serem também consideradas para a salvaguarda de recursos naturais, mesmo que se tenha que atuar alguns anos para resgatá-las, como é o caso de manguezais e restingas que foram perturbados ou seriamente modificados em suas áreas de origem. Para tal, se estimulará a regeneração natural através de  cuidados e técnicas diversas, além do plantio de sementes e  mudas, entre outras.
     9- Que no monitoramento dos impactos ambientais causados pela poluição atmosférica, hídrica, do solo etc, sejam incluídos também os malefícios que causam sobre as plantas, animais selvagens e seus ecossistemas, e não somente em relação ao homem, porque se o equilíbrio biológico ficar prejudicado as consequências redundarão em prejuízos humanos.

    10- Que ao lado de ações fiscalizadoras e punitivas seja implantado um amplo programa de educação ambiental no município desde a pré-escola, de modo a atingir o maior número possível de públicos, incluindo-se neles, principalmente, os empresários e políticos locais.
            Eis aí os 10 princípios básicos que sugerimos cuja viabilidade dependerá, fundamentalmente, da sensibilidade dos poderes decisórios municipais e da própria comunidade em relação ä causa conservacionista. O mais é sair do discurso para a prática, de modo que os lucros auferidos passem a ser contabilizados sob uma nova forma de investimento, que muito mais que valores financeiros acumulam reconhecimento público, seriedade administrativa,  respeito ao próximo e à vida.


sábado, 28 de março de 2015

Ainda em París?


Colaborador ROBERTO ROCHA

A insensibilidade e a ignorância em relação às questões de preservação do nosso patrimônio é facilmente explicável porque os atuais ditos “brasileiros” que estão no poder empresarial são na verdade “europeus em terra estranha”; muitos deles mestiços, porque seus ancestrais recentes se acasalaram com negros e índios. Indígenas (brasileiros autênticos) e africanos não mestiços (também autênticos), representam o melhor grupo humano que compreende o valor do equilíbrio ambiental tropical, porque possuem tradições milenares. E a nossa tradição brasileira – construída a partir de estratégias de países do gelo – qual é? Em pouco mais de 500 anos, nosso equivocado modelo de uso da terra mostrou seus erros. Os índios, “ditos incivilizados” – porque não acompanharam a “civilização” dominante da Europa – foram exterminados para que novas populações exóticas ocupassem o mesmo espaço, alardeando seus modelos de exploração. Os índios não “exploram”: eles “convivem”! Os indígenas preservaram nossas florestas, rios, praias, lagoas e tudo que se possa imaginar, durante “milhares de anos”. Lamentavelmente não valorizamos a nossa (?) própria história. O que somos hoje? Fruto de um modelo da idade moderna, antropocêntrica, que – apesar do apelo da época (que gritava nas ruas da França pela liberdade, igualdade e fraternidade) – estimula a ausência do Estado nas questões fundamentais e privilegia fortemente o privado para interferir no que é público. É verdade que estamos hoje num caminhar doloroso, aprendendo com nossos graves erros do passado, tentando consertar parte do que ainda tem conserto. Mas como consertar a alma? O sentimento de perda vai ficar. A ferida pode até fechar! Pode não doer mais. No entanto, não podemos esquecer que nosso DNA original está vivendo aqui como exótico e invasor. Trouxemos conosco nossos acompanhantes também exóticos e invasores (boi, cavalo, porco, cachorro, gato, galinha etc). Que justamente por isso, temos uma enorme dificuldade de entender a estratégia indígena de ocupação e uso do espaço. Que justamente por isso somos incompetentes em lidar como a gestão de ecossistemas tropicais. O Rio de Janeiro do início do século XX parecia Paris. As pessoas (os privilegiados) se vestiam como se estivessem na Europa. Somos uma continuação deles. Precisa dizer mais?

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Sustentabilidade: a saída, onde está a saída?

Colaborador Roberto Rocha

Acho que nosso maior desafio é compreender que nós não somos "gente" como todo mundo acredita. Somos apenas um conglomerado provisório de partes dos diversos compartimentos do planeta (atmosfera, hidrosfera, geosfera) organizados conforme cada genoma particular. Temos sim uma outra parte cósmica, pensante. Mas a nossa cultura egoísta deturpou o conceito de que pertencemos ao todo. Pensamos e agimos -  equivocadamente - como se fôssemos criaturas independentes da natureza. Esse erro nos torna, falsamente, poderosos demais; e nos incentiva a interferir nos sistemas sem maiores cuidados. Ocorre que a nossa capacidade de intromissão é outra ilusão. Nós não podemos salvar o planeta. Precisamos salvar a nossa pele, enquanto "ELE" está nos tolerando.  É possível que chegue um ponto em que Gaia não nos tolere mais, e nos elimine com alguma onda de vírus letais ou de "desastres" corretivos. Nada incomum. A química dos compartimentos já mudou diversas vezes na história dos bilhões de anos do planeta. E nós - que chegamos aqui no outro dia - arrogantemente, nos colocamos com "criaturas especiais". Pobre homem! Pobre intenção. Quando é que vai cair a ficha? Os modelos de funcionamento dos serviços dos ecossistemas são nosso norte. Não temos que inventar mais nada. Precisamos apenas observá-los e aprender com eles. Quem está interessado nisso num mundo capitalista? Num contexto materialista e que coloca o homem como centro do mundo? O homem não é centro!  É parte. Frágil, dependente, efêmero. Este pode ser um caminho.